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13/06/2016

9 - APERTO-LHE A MÃO

Daqui em diante
Esconde-se minha poesia,
Ruela esquecida de um bairro distante.

Dentre as bocas dos bueiros semi-abertos,
Entulham-se outras coisas:
Utensílios, dois ou três dedos que doem,
Gordurosas teclas de uma máquina idosa.
Um relógio sem corda
Em forma de forca.
Chaves perdidas que coleciono, documentos inúteis,
Times inteiros de papéis e suas boas intenções,
Cascalho.

Tenho ciência da fragilidade desta minha família,
Objetos sem fetiche e verniz.
Sei que a chuva nunca tarda suas ameaças
Por onde a gente tenta fincar pés.
Todavia,
Sigo nesta rua,
Toda-a-vida,
Olhando ninguém perder o sono
Por estes deslizes.