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22/09/2022

75 - APOROFOBIA

Morador de rua pôs um enfeite em frente ao improviso

De sua casa de embalagens que incomoda a noite

Se a flor for sorriso, alguém toma

Quando a hora for precisa, alguém enxota

 

Não pode sair sem aviso, que perde o catre

Não pode levar o troço, que perde o passo

Carrega consigo tudo que acumula

Da vida que expulsa e ninguém embala

 

Já olhou a cor dos olhos do morador de rua?

Já quis estar longe do vizinho que a você não se iguala?

Pois talvez o mendigo seja a crua

Realidade sua, sem uma mão que ampara

 

É um estágio sem espelhos e perfume.

Fiquem sujos e se distingam da gente limpa!

Que sua forma seja antes a de estrume

Do que a do real próximo que me deprime

 

Morador de rua é sacrifício de alguém sem nada

Homo sacer dos tempos de agora

É preciso nomear a aversão do dia

Tocar sílaba a sílaba a A-PO-RO-FO-BIA

Acolhendo na rotina esta dura palavra.


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