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22/09/2022

75 - APOROFOBIA

Morador de rua pôs um enfeite em frente ao improviso

De sua casa de embalagens que incomoda a noite

Se a flor for sorriso, alguém toma

Quando a hora for precisa, alguém enxota

 

Não pode sair sem aviso, que perde o catre

Não pode levar o troço, que perde o passo

Carrega consigo tudo que acumula

Da vida que expulsa e ninguém embala

21/09/2022

74 - POEMINHAS


- Poema, Olhos, Saca-rolhas, Gaveta e treta -


Meu poema sem seus olhos é um saca-rolhas na gaveta.


Entendeu a treta?

19/09/2022

73 - 5º CASO. PICHAÇÕES

 Multicores

5º Caso. Pichações


tac tac tac tac tac tac tac:


"todas as peças de vidro estão em mim"


tac tac tac tac tac tac tac:


"tenho nos pés o último par de sapatos"


tac tac tac tac tac tac tac:


"emotion tem botões?"


tac tac tac tac tac tac tac:


"tirei uma fotografia do móbile"


tac tac tac tac tac tac tac:


"JOHNNYSIO!"


(som de passos correndo...)



18/09/2022

72 - ENTRE O FOLCLORE E O MÓBILES

 Entre o Folclore & os Móbiles: Casuística, de Johnny Guimarães

 

Por Lúcio Emílio do Espírito Santo Júnior

 

O livro de poemas Casuística, de Johnny Guimarães (Ed. Alba, 2003), parece imaginado pelo autor como a realização de um Apolo juiz & promotor de si mesmo. Para os leitores de orelha de livro, ele oferece um deleite, pois faz poesia na orelha. É como diz Jô Soares: a orelha nasce, depois a pessoa cresce ao redor. Parece sonhar que do branco sobre branco de Malevitch podem nascer bandos de cores que sairão, ao primeiro olhar, esbaforidas e soltando penas de pavão rumo aos olhos do leitor.

16/09/2022

71 - VOCABULÁRIO

 Fogo e dor ditam 

O tamanho do meu vocabulário.


Se me chama ou me larga, 

Invento um dicionário.


VEJA O VÍDEO

70 - MÁQUINA DE NEGAR

Lembrei-me de uns olhos

Lembrei-me de um tapa

Qual cor desses olhos que não quero ver?
Qual força desse tapa que não engulo?

Verde era a cor do olho que me maltrata
Ardor era a voz do tapa que me malcria

69 - SE VENDE

 VENDO UMA POESIA QUE NÃO VALE NADA



68 - 10º CASO: SUICIDADE

 Chumbo

10º Caso: suicidade


MANIFESTO


Nada nunca foi como eu sempre quis

Tudo sempre foi como eu nunca quis

Sempre tudo foi como eu nada quis

Nunca nada foi como eu tudo quis


Fim manifesto.


67 - IMPOSSÍVEL

Olhe

É impossível olhar para trás

 

As gotas vieram de uma chuva que conto

Que é linguagem, imagem ou lembrança

 

Se não viu a chuva de ontem

não adianta fechar os olhos

 

Apenas se molhe

Nas gotas deixadas

antes que virem pássaros

 

Deite na lambança da chuva que não viu

É impossível olhar para trás

VEJA O VÍDEO

 

 

 

13/09/2022

66 - PASSARINHO MAL-ACABADO

 Ontem à tarde quase ouvi um passarinho

Destes já submissos à cidade.


Por trás de seu canto, 

havia barulhos de carros, avião, ar condicionados 

e máquinas de fazer qualquer coisa.


O passarinho se esforçava para aniquilar a cantoria 

de uma rouquidão mal-humorada.


Seu canto se contorcia, 

buscando um entrosamento 

com o fantasma do asfalto quente 

e o lixo jogado nas calçadas.

06/09/2022

65 - ZERO

 


Esta nota foi um tapa?

Não considerou meu colorido.

Fiz no desenho da questão a intervenção mais linda que pude, 

com cores que mostram um mundo com graça.

Meu vermelho extrapolou.

Preferi não usar o preto para evitar a redundância.

Acabei com a ponta do lápis amarelo, que este mundo precisa de sol.

Colori cada figura que vi na página.

O zero na questão foi de caneta azul, impiedoso. Duro.

Eu não daria zero para o zero da professora.

Minha idade traz inocências que não permitem.

Tão bonito o azul do zero dela e o redondinho tão perfeito.

01/09/2022

64 - GIF

 

Só há peso na palavra saudade

Porque há milênios de uma saudade intensa

Compartilhada a sangue

Por mar, terra e ar

 

Os emojis e gifs são muito novos para entenderem o que digo

 

Só há saudade nos meus poemas depois da morte do meu pai

Os outros textos eram cópias dos poemas dele


Veja o vídeo