O
peixinho recebeu o nome de Tog. Parecia uma sigla, mas como surgiu da
imaginação do menino, todo mundo gostou.
Vivia num aquário, com
pedrinhas coloridas e uma rama de plástico no meio. Era vermelho, de um
vermelho escuro e provocante.
Gostava
de se exibir quando aproximávamos.
Parece
que ouvi dizer que esta espécie gosta de briga. Tão pequeninho e indefeso...
Será verdade?
O
certo é que dávamos cinco bolinhas de proteína toda manhã, trocávamos a água do
aquário toda semana, e ele observava com atenção os movimentos de toda a
família.
Só
não aceitava que se aproximassem do aquário.
Parecia
encarar a gente. Se você colocasse o dedo indicador perto do vidro, ele
dançava, abria as barbatanas, querendo defender o seu território.
Mas
quem gostaria de trocar com ele, morar no seu minúsculo aquário? Fico me
perguntando.
Era
comum surpreendê-lo, dormindo. Dormia de um jeito quase estátua, que parecia
fruto de meditação, que dava medo da frágil criatura ter-se ido. Parecia fingir
de morto. Conferíamos com o dedo, cutucando para ver se estava vivo, e ele já
acordava chamando para o ringue.
Foi
numa destas que o menino teve a ideia de buscar o boneco de brinquedo do Kung
Fu Panda e colocar bem em frente ao aquário.
Donde
veio esta maluquinha ideia, ninguém sabe. Mas como surgiu da imaginação do
menino...
O
Tog observou aquele adversário pançudo, eriçou as barbatanas, quase ficando na
ponta de um só pé, ops!, quer dizer, modo de falar...
O
certo é que Tog não respeitou o mestre das artes marciais, o famoso e lendário
Kung Fu Panda, e ficou fazendo cara feia, chamando o oponente para dentro ou ameaçando
vir para fora, para uma contenda.
Ficaram
um tempão olhando um para o outro.
O
Kung Fu Panda, numa posição eterna de um golpe fatal, nem mexia os olhos, nem
as pernas, nem os braços, nem nada, já que era mesmo de um plástico rijo.
O
Tog se movimentava todo, num estilo agressivo, e acho que mostrou conhecer
alguns golpes impossíveis para meros iniciantes. Ele era um mestre e nem
sabíamos quando o compramos. Pensei que fizemos um bom negócio, portanto.
Acontece
que chegou a hora da escola do menino e naquele dia havia dever de casa para
entregar, era dia do brinquedo e o pai estava com pressa, e talvez por isto esquecemos
o Kung Fu Panda em frente ao aquário do Tog.
Para
quê, meu Deus?
Foi
uma tarde inteira de intensa luta... pelo menos dentro daquela caixinha de
vidro.
Se
peixe suasse, o Tog estaria encharcado de tanto soco que dera na água.
Mas,
valeu a pena. Pois, no fim da tarde, quando o menino voltou da escola, qual não
foi a surpresa em encontrar o Kung Fu Panda deitado, com uma gota d´água na
testa, bem próximo ao aquário.
-
O Tog venceu! Gritou o menino, quando viu a cena.
TOG
versus KUNG FU PANDA!
-
O Tog venceu! Repetiu o menino, orgulhoso.
O
pai, depois de fechar a janela, não soube explicar o que tinha acontecido,
ficando com a explicação e entusiasmo do menino.
Na
manhã seguinte à luta, por precaução, diminuiu de cinco para três bolinhas de
proteína a alimentação do Kung Fu Betta.