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17/07/2022

14 VALDO – FUTEBOL DE RUA DA MINHA INFÂNCIA

 

Que saudade do Valdo.

Era um menino engraçado, ainda se acostumando com o imenso corpo, que dera para crescer a uns anos e parecia não querer parar naquele tamanhão. Parecia ser maior que ele mesmo, mas fazia com gosto parte do nosso pequeno time.

Éramos o Binha, Dengo, Tande, Berê (o craque), Nêm, Célio e Valdo.

E todos estávamos esperando aquele dia.

Seria a final do jogo da rua e disputaríamos o título com o pessoal da rua de baixo.

Pois bem, começamos o jogo perdendo e eu já tinha tomado dois gols.

O Nêm, que corria muito e tinha apelido de Torresmo, empatou, com dois sorrisos que só ele.

Lá pelo meio do segundo tempo, vi Valdo sozinho e arremessei a bola na direção daquela montanha-menino. Ele dominou, driblou o zagueiro que quis impedir e chutou forte.

Forte, tão forte que o golaço pareceu covardia com a meninada.

Vibramos tanto que descobrimos naquele instante sermos uma família.

Mas o chute tinha sido muito forte e o pessoal de lá não gostou. Não gostou tanto que se negou a buscar a bola que tinha ido parar num pomar que havia lá embaixo.

Era conhecida a regra: quem tomasse o gol, buscava a bola. O outro time apelou e quebrou o velho costume.

Num momento de felicidade e humildade, o nosso herói sentenciou:

- Deixa que eu busco!

E lá foi o Valdo buscar a bola do jogo, no meio das frutas e da passarinhada, sem querer parar de ser feliz.

Lá foi o Valdo com um sorriso aberto e gigante.

Lá foi o Valdo para o lugar que a gente pensava que sabia.

Ele foi buscar a bola e não voltava mais.

O tempo passou, veio a noite, a hora do banho e o Valdo não voltava.

Nunca mais voltou.

Ganhamos o jogo que não terminou.

Perdemos o Valdo de vista.

Nosso time para sempre jogou desfalcado.

Que saudade do Valdo.


Johnny Guimarães