Que saudade do Valdo.
Era um menino engraçado, ainda se acostumando
com o imenso corpo, que dera para crescer a uns anos e parecia não querer parar
naquele tamanhão. Parecia ser maior que ele mesmo, mas fazia com gosto parte do
nosso pequeno time.
Éramos o Binha, Dengo, Tande, Berê (o craque),
Nêm, Célio e Valdo.
E todos estávamos esperando aquele dia.
Seria a final do jogo da rua e disputaríamos o
título com o pessoal da rua de baixo.
Pois bem, começamos o jogo perdendo e eu já
tinha tomado dois gols.
O Nêm, que corria muito e tinha apelido de
Torresmo, empatou, com dois sorrisos que só ele.
Lá pelo meio do segundo tempo, vi Valdo
sozinho e arremessei a bola na direção daquela montanha-menino. Ele dominou,
driblou o zagueiro que quis impedir e chutou forte.
Forte, tão forte que o golaço pareceu covardia
com a meninada.
Vibramos tanto que descobrimos naquele instante
sermos uma família.
Mas o chute tinha sido muito forte e o pessoal
de lá não gostou. Não gostou tanto que se negou a buscar a bola que tinha ido
parar num pomar que havia lá embaixo.
Era conhecida a regra: quem tomasse o
gol, buscava a bola. O outro time apelou e quebrou o velho costume.
Num momento de felicidade e humildade, o nosso
herói sentenciou:
- Deixa que eu busco!
E lá foi o Valdo buscar a bola do jogo, no meio
das frutas e da passarinhada, sem querer parar de ser feliz.
Lá foi o Valdo com um sorriso aberto e gigante.
Lá foi o Valdo para o lugar que a gente pensava
que sabia.
Ele foi buscar a bola e não voltava mais.
O tempo passou, veio a noite, a hora do banho e
o Valdo não voltava.
Nunca mais voltou.
Ganhamos o jogo que não terminou.
Perdemos o Valdo de vista.
Nosso time para sempre jogou desfalcado.
Que saudade do Valdo.