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18/07/2022

15 - AS MAIORES MANGUEIRAS DO MUNDO

           

Eram três grandes mangueiras na casa de vô Hugo.

Segundo o que todos diziam, as maiores mangueiras do mundo.

E vô Hugo se orgulhava de poder lustrar de quando em vez as plaquetas com as inscrições dos méritos dos pés de manga.

Imagina, todo o pódio ali no seu quintal.

Era uma fortuna os pés de manga espada, figo e sapatinho.

E por isso o dezembro chuvoso era uma festa.

A maior mangueira, que ficava em frente à casa, ao menor vento, nos assustava com fogos de artifícios que eram os pedaços de telhas esvoaçando para todo lado.

Vó violeta morria de medo.

Nós, netos, quando a telha aguentava, ficávamos em posição de partida, ouvindo o rolar das mangas pelas canaletas, e, pronto, quem pegasse a manga madura era o campeão.

Passava a chuva, que lavava a rua, mas não lavava nossas bocas e memórias de amarelo de manga. Íamos para o quintal, brincar de tudo.

E vô Hugo dizia: “Não assustem as rolinhas”.

Rolinhas que eu nunca vi.

Procurava por todo quintal, entre as três árvores gigantes, perto do muro do mundo, em cima daquele telhado e nada.

As rolinhas do quintal de minha infância eram um mistério ou uma ausência, apenas confirmadas pelo receio de meu avô.

Até hoje não sei se existiam.

Às vezes, imagino-as voando, sem cor, só aquela fronteira em forma de pássaro, batendo suas asas transparentes.



Ouro

Quintal com cheiro de chuva

Boca com gosto de manga

Ninguém tira ou arranca


                                                                                                        Johnny Guimarães