Era
outra vez um bom velhinho. O melhor vovô do mundo. Sabia distribuir sorrisos,
doces, bênçãos e manias.
Tinha
um cabelo branco, penteado para trás com brilhantina em excesso. Porque ele era
de um tempo em que brilhantina era a moda e ele pegou o hábito de assim usar.
Vestia
roupa nos trinques, toda passadinha. Porque queria estar sempre charmoso e
estar bonito não era apenas uma mania.
Só
comia na mesa da sala, com uma toalha de pano florida, embaixo do prato branco,
meio-dia em ponto.
Tinha
um lenço no bolso, sempre azul, um pente e um bilhete de loteria da semana.
Apostava nos mesmos números e só ele sabia o porquê. Parece que queria ser um
super milionário.
Mas
o que o vovô mais tinha era mania, cacoete ou outro nome que se queira dar.
Neste quesito, ele já era para lá de rico. Era dono de uma coleção imensa, dava
para encher uma caixa de tesouros apenas com as manias do vovô.
Sempre
estava enrolando um papelzinho, em forma de funil.
-
Para quê, vovô?
-
É mania, menino! Dizia, sincero.
Quando
a gente via ele bebendo água, de golinho em golinho, umas dez vezes, aquilo
irritava e a gente perguntava, por quê?
-
É mania, menino! Respondia com voz grossa de trovão carinhoso.
Quando
a gente via ele dando toquinhos nos móveis da casa, batidinhas duras, como se
testasse a rigidez da madeira ou da sorte, a gente caçoava, por quê?
-
É mania, menino!
E
colocava tudo em sacolinhas de plástico de supermercado:
-
É mania, menino!
Quando
a gente via ele estalando os dedos, com barulhos que pareciam gravetos, até dar
calos, a gente arrepiava de gastura e soltava: mas, por quê?
-
É mania, menino!
E
o vovô sempre criou suas manias soltas pelos cômodos, sem vergonha nenhuma. Excêntrico,
nunca deixou de ter uma da vez.
Eram
tantas e tantas que ficaram guardadas nas memórias de todos os netos, sem
exceção.
Com
certeza, as manias do vovô foram as verdadeiras heranças da família.