Era quase esquina com
Rua Rubem Fonseca quando um policial à paisana cruzou meu caminho. A trombada
foi ligeira, mas como eu corria muito e ventava muito e muito estranhos eram
meus movimentos, o policial desocupado passou a seguir-me.
Corríamos, um atrás
do outro. Ele, com intuito de desvendar meus delitos; eu, buscando um ninho que
me abraçasse.
Quanto mais corria,
mais seus pés de homem com tempo engoliam meus segundos. De vez em quando, meus
olhos lançavam olhadelas e ardiam (areavam-se), por pouco não cerrando as
janelas.
Era tarde da noite,
era inocente da morte que nem mesmo sabia, havia horas que não via as paredes
carcomidas de meu quarto, e meu querer se restringia a um aperto-de-mão seguro
e um túmulo sem portas.
O soldado à paisana
prosseguia firme na caçada. Meu fôlego morria e cremava-se dentro do peito.
Minhas pernas cansadas, com dificuldades reumáticas, eram automáticas em
guiar-me para longe do lugar do crime inexistente. Braços autômatos e outro
entroncamento vinha como comparsa da autoridade. Mas, nesta cidadela, pensei,
ou tomo estas ruelas que se apresentam como desvios, ou tombo, findando o dia
numa surra mal entendida, num beco sem beira, sem saídas.
Minha correria, numa
façanha, como um tiro, pulou para a outra calçada. Virei à direita na esquina e
quase preencho um atestado de óbito com “causa mortis: Parada Cardíaca”.
Não acreditava no que
surgia em minha frente, cara-a-cara. Eu, sempre crente e temente ao nosso
querido Salvador São Jorge, por sorte não caí de repente, imerso no susto e no
apavoramento.
Imaginação fértil,
nunca tive. Medo, apenas da fome e da pouca comida, ironicamente consumidora de
meus dentes. Mas, ali, em frente a meus passos, trazida pela incansável
ventania (ou pelo diabo!), eis que tentava minha queda, através das armas da
surpresa e do espanto, aquela... folha seca!
Visão comum nestas
idas do ano: folhas secas.
Parei, depois do
susto incontável, e, num gesto pacificamente perigoso, apanhei a folha.
O guarda tosco, sem
uniforme, mas mulato da cor de uma casca grossa, também parou. Tinha sido cinza
no perseguir-me. Eu, coitado em distraí-lo.
O vento me
importunava. Resignado, tomei o rumo de casa, largando a folha ao chão.
No céu, o balanço de
nuvens e estrelas lembravam pipas guerreando.